Matéria atualizada - 3ºs Anos
A DOMINAÇÃO MASCULINA
- Pierre Bourdieu
Pierre Félix Bourdieu nasceu em Denguin
em 1 de agosto de 1930 e morreu em Paris, 23 de janeiro de 2002. Foi um
importante sociólogo francês, conhecido mundialmente, sendo consagrado como um
dos maiores intelectuais de nosso tempo.
Bourdieu
baseia seu trabalho em uma investigação sociológica do conhecimento e detecta que
existe um jogo de dominação e reprodução de valores, ou seja, fazemos um
esforço para aprender e incorporar, de forma inconsciente, o que é ser homem e
o que é ser mulher. A divisão entre os sexos masculino e feminino no mundo
social parece ser normal, natural, a ponto de ser inevitável, funcionando como
sistemas de pensamento e ação existentes. A diferenciação entre os sexos visa
estimular em cada agente, homem ou mulher, práticas que convém a seu sexo,
proibindo ou desencorajando condutas impróprias, sobretudo nas relações com o
outro sexo.
A força da
ordem masculina se justifica na divisão social
do trabalho, nas tarefas que são atribuídas a cada um dos dois sexos. A
diferença anatômica entre os órgãos sexuais é uma justificativa natural para a aceitação
da diferença socialmente construída
entre os gêneros. A “virilidade”, ser virtuoso, ter honra, são termos que não
podem ser separados da virilidade física, pois é o falo que preenche, é ele que
está cheio de vida (quem é estéril é oco), justificando simbolicamente estas
propriedades naturais. Essa justificativa
simbólica de que o falo é a vida, reforça a crença de que este sistema de
dominação é natural, normal e inevitável. A definição social dos órgãos sexuais
é um produto de uma construção e o masculino é tomado como medida de todas as
coisas. Até o Renascimento, o sexo da mulher é representado como o do homem,
apenas disposto de maneira diferente.
A Dominação
Masculina do modo como é imposta e vivenciada, é resultante da violência simbólica, que é uma
violência suave, insensível e invisível as suas próprias vítimas, sendo
exercida essencialmente pelas vias puramente simbólicas da comunicação e do conhecimento,
ou mais precisamente, do desconhecimento, do reconhecimento e do sentimento. A
invasão da consciência das mulheres se dá pelo poder físico, jurídico e mental
dos homens, com efeitos duradouros que a ordem masculina exerce sobre os corpos
das mulheres, que não compreendem a submissão encantada que constitui efeito
característico da violência simbólica.
A percepção social
dos órgãos genitais usa do simbólico ao passar a idéia de ‘alto’ e ‘baixo’, ‘cheio’
e ‘vazio’, ‘seco’ e ‘molhado’, ‘quente’ e ‘frio’, sendo a cintura a fronteira
simbólica entre o puro e o impuro, pois aquela que mantém sua cintura fechada,
é pura, virtuosa. É um símbolo de fechamento do corpo feminino, é a barreira
que protege a vagina, socialmente construída em objeto sagrado. No exame
ginecológico, por exemplo, é usado um avental como barreira simbólica para
dissociar a paciente de seu sexo, um objeto simbolicamente sagrado.
O ato sexual
também é pensado em função do princípio do primado da masculinidade. A oposição
entre os sexos, alto/baixo, cima/embaixo, seco/úmido, quente/frio (apagar o
fogo), ativo/passivo, móvel/imóvel. A vagina é vista como vazia, o oposto do
falo, que está cheio. Cima/embaixo, ativo/passivo são alternativas que
descrevem o ato sexual enquanto uma relação de dominação. De um modo geral,
possuir sexualmente é dominar no sentido de submeter a seu poder, significa
também enganar, abusar, ou como nós dizemos: possuir. (Resistir à sedução é não
se deixar enganar, não se deixar possuir). As representações dos dois sexos não
são, de maneira nenhuma, iguais. As moças estão socialmente preparadas para
viver a sexualidade como uma experiência íntima e fortemente carregada de
afetividade, que não inclui necessariamente a penetração, (inclui falar, tocar,
beijar, acariciar) ao passo que os rapazes tendem a compartimentar a
sexualidade, concebida como um ato agressivo, sobretudo físico, de conquista
orientada para a penetração e o orgasmo. A posse é a afirmação da dominação em
estado puro e o orgasmo feminino uma prova da virilidade masculina e da
submissão feminina. A pior humilhação para um homem consiste em ser
transformado em mulher, debochar de sua virilidade, acusar de homossexualidade,
conduzir eles como se fossem mulheres.
Atualmente
inúmeras mulheres romperam com as normas e formas tradicionais, como se fosse um sinal
de ‘liberação’. No entanto, o uso do próprio corpo continua subordinado ao
ponto de vista masculino, como por exemplo, nas propagandas, ao aderir à
ditadura da moda, da estética e dos padrões impostos de beleza.
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